A exposição-instalação de Vijai Patchineelam (n. 1983, Niterói) funciona como uma poderosa “caixa de ressonância” diante da perplexidade de um tempo suspenso entre o que já foi e o que ainda não é. Como articular gestos individuais ou coletivos, artísticos ou sociais, produzidos na montagem de um filme ou ocorridos na tomada das ruas com necessidades muito urgentes que parecem inatingíveis por nossas (boas) intenções? Este conjunto de “coisas”, ou seja, de imagens em movimento e de objetos dispostos no espaço de uma determinada maneira são perguntas sobre um possível deslocamento na história.
Resistir ao passado, ignorar o passado e a incapacidade de conter o presente. Um título a três atos, sem progressão nem redenção, três situações, apenas três. E ainda assim vemos sendo engendrado um pensamento que polariza dois tipos de tensão social e política, por um lado a energia difusa do protesto, e por outro a procura por medidas concretas.
Iniciar com a montagem de um trabalho de 1976 do artista Carlos Zilio – Equilíbrio I, II, III – nas salas da administração do MAM-Rio, ao mesmo tempo em que faz uma homenagem, lança uma pergunta sobre que equilíbrio é possível no mundo hoje, e que efeitos teria a arte ou as imagens para lidar com este mundo. Como a arte pode ser política e como sua impotência abre perspectivas independentemente das angústias de um heroísmo político extemporâneo?
O tempo da exposição é o hoje que é sempre o ontem e o amanhã, um tempo dilatado e anacrônico, mas com um gancho real nos movimentos de contestação que fervilham à escala mundial. O eco vem da Suécia. Foi lá, durante um verão europeu, que Vijai Patchineelam filmou as marchas e protestos, as vozes clamando, os ativistas ilegais, os corpos sociais, os carros entediantes, a indisciplina do movimento, as autoestradas do norte, a tentativa continuada da criação de igualdade, muitos jovens na paisagem, a inércia europeia, etc.
Não há denúncia, testemunho ou ilustração de uma qualquer ideia narrativa. O político procura se fazer presente na montagem cinematográfica, a partir de uma outra poética que nos é apresentada logo à entrada desta instalação. A presença concreta e opaca do trabalho de Carlos Zilio nas palavras de Vijai, serve como “uma espécie de roteiro que estrutura o vídeo de acordo com as três variações de equilíbrio por corte presente na instalação”. E é também uma conversa entre Vijai e Zilio sobre arte. Uma homenagem que os que vêm depois fazem aos que já cá estavam. Talvez a arte seja isso mesmo, um diálogo continuo em tempos distintos, sobre as mesmas questões.
Luiz Camillo Osorio
Marta Mestre
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