“Ações, estratégias e situações…” reúne histórias da arte brasileira e estrangeira que, segundo o artista argentino Luis Camnitzer, devem ser medidas com relógios diferentes, embora tenham em comum a mesma emergência relativamente à modificação dos lugares tradicionais da arte.
Existe, nas coleções do MAM-Rio, um foco na produção de artistas que reinterpretaram o lugar da obra (a sua presença artística), no qual o objeto cede a sua relevância à linguagem ou à experiência. Esta exposição dirige-se a essas problemáticas ...
[Read more]
“Ações, estratégias e situações…” reúne histórias da arte brasileira e estrangeira que, segundo o artista argentino Luis Camnitzer, devem ser medidas com relógios diferentes, embora tenham em comum a mesma emergência relativamente à modificação dos lugares tradicionais da arte.
Existe, nas coleções do MAM-Rio, um foco na produção de artistas que reinterpretaram o lugar da obra (a sua presença artística), no qual o objeto cede a sua relevância à linguagem ou à experiência. Esta exposição dirige-se a essas problemáticas sem pretender cunhar o termo “conceitual” aos artistas aqui reunidos, mas reunindo diversos materiais que questionam algumas noções aceitas e tradicionais do campo da arte, especialmente até aos anos 60, tais como objeto, instituição, circuito, recepção e história.
O horizonte temporal vai desde a poesia experimental e concreta no Brasil (“Décio Pignatari, Cloaca”, 1957), momento fértil da flutuação visual do significado e do significante, até ao contrato de Marcius Galan (“Obra de arte em 5 vias”, 2012) acerca da composição do sistema de arte e a sua análise crítica. Neste recorte foram privilegiadas as “ações, estratégias e situações” utilizadas na elaboração das obras, o que reuniu dois tipos de objetos que, na vida da instituição, ainda vêm sendo estudados e tratados de forma separada: obras de arte e documentos.
A proposta é reforçar as diversas formas de enunciação da arte para além dos suportes tradicionais (pintura, escultura, etc.), testemunhando o comprometimento do MAM com propostas experimentais a partir dos anos 60 (Salão Bússola, Sala Experimental), e o situando na virada conceitual da arte dessas décadas. Um momento de contributos expressivos para a arte dos dias de hoje, em que os artistas retiraram a ênfase no objeto físico como lugar privilegiado da relação com o espectador, elevaram a concepção da obra de arte acima de sua execução material e promoveram o seu caráter desmaterializado, precário e temporário.
Um dado importante da produção aqui reunida é a atenção à narrativa da experiência e à reescrita da história. Muitos artistas começam a fazer uso expressivo do “documento” que já não é mais algo exterior ao acontecimento histórico, mas uma matéria passível de ser modificada. O artista é um novo “historiador” atuando por meio de uma crítica institucional, como pela sua capacidade de questionar e potencializar as formas de registro.
As fronteiras entre obra e documento se friccionam nos materiais presentes nesta exposição: poema impresso, livro, fotografia, fotocópia, cartaz, documentação, contrato, proposição e maquete.
“Ações, estratégias e situações…” é convite a olhar os diferentes tipos de acervo do museu, sem hierarquias nem prevalências, tratados num mesmo plano, para uma conversa comum.
+ Info